A Engenharia Florestal Brasileira tem realmente atendido à agenda da EA?

Há na engenharia florestal brasileira, uma discussão muito recorrente quando se fala em “meio ambiente”, o tal tema que, embora estamos a tratar de um curso com escopo relativamente ambiental, mas ainda encontra alta complexidade em como trabalhar-se a temática nas graduações e pós-graduações de ciência florestal. Há aqui uma grande lacuna, que embora buscamos neste post tentar responde-la, mas a verdade é que novos questionamentos vêm a surgir todo o tempo!

Existem duas linhas de pensamento ao se discutir as questões florestais, a primeira visa o aumento de produtividade na maioria das subáreas do setor, claro, e afinal, é a resposta a forma de se criar empregos, gerar demandas e ofertas, fixar produtores no campo, e aperfeiçoar o sistema productivo florestal, direto ou indireto, madeireiro e não madeireiro. Já a segunda linha de pensamento visa à conservação da biodiversidade e dos ecossistemas, pautada na busca pela redução dos impactos e degradações historicamente causados pelo desenvolvimento humano, de tal forma a fomentar a produção de bens e serviços de maneira sustentável nos fatores sociais, econômicos e principalmente ambientais. Tudo bem!

Contudo, ainda há na Engenharia Florestal brasileira um aparente esquecimento dos aspectos relacionados a Educação Ambiental, não necessariamente como uma disciplina, mas como temática transversal que perpassasse todas as áreas de formação do profissional. Ainda formam-se estudantes intensamente silviculturalizados, dada a maior facilidade, avanço e amplitude de tal grande área no meio acadêmico, e paralelo a isto, tem-se percebido que outras grandes áreas, também de grandiosas relevâncias, estão sendo deixadas de lado, estas vão desde as temáticas da proteção florestal, as geotecnologias, a recuperação de ecossistemas, o manejo florestal sustentável, à sistemática e taxonomia botânica, dentre outras, e neste grupo incluem-se extensão rural/florestal, e a tão importante e aparente pouco discutida Educação Ambiental. Mas, ora, mas porque existe tal reflexo da EA? Quais as dificuldades e temores para não considerarem melhor os parâmetros de educação ambiental nas grades curriculares? Por que os recém-formados não estão levando EA da forma mais ideal? EA não dá dinheiro?  Ou EA não é de fato importante?

Paralelo a esse aparente déficit da EA na eng. florestal, tal discussão a nível nacional tem sido bastante ativa e considerável, conta-se desde a  criação da lei federal nº 6.938 de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), que traz em seu artigo 2º  o objetivo, que: “a preservação, a melhoria e recuperação da qualidade ambiental propicia a vida, visando assegurar, no país, condições de desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e a proteção da dignidade da vida humana.” Em seu inciso X, o artigo 2º cita como princípio “a Educação Ambiental a todos os níveis do ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente”. Observa-se, então, a importância que é atribuída à discussão da EA para a mudança de paradigmas, em todos setores da formação profissional. Ainda no Brasil, no século passado, foi dada a promulgação da lei federal nº 9.795, de 27 de abril de 1999, que implementou a Política Nacional de Educação Ambiental em todos os níveis de ensino do país. A lei federal da EA é fruto de uma ética sistêmica e colaborativa. No capítulo I, “Da educação ambiental”, artigo 1º, estabelece: “Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”.

Logo, em seu artigo 10, § 1º, a lei de EA ainda menciona que: “A educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino”. Dessa forma, pressupõe-se que a iniciativa de incorporar a EA na prática pedagógica do ensino florestal, não seria de fato, necessariamente como uma disciplina curricular, mas como uma iniciativa que depende muito mais da sensibilização individual de parte ou do todo corpo docente das instituições de ensino. Sim! O professor, o grande responsável pelo fomento e provocação à transformação e mudança de paradigmas na formação do estudante de engenharia florestal. Em destaque deixamos para reflexão a citação do Professor Drº Sebastião do Amaral Machado em uma das suas obras sobre a eng. florestai brasileira:

 “[...] o eng. Florestal deve possuir formação cientifica, tecnológica, filosófica, ética, social e intelectual que o habilita a diagnosticar problemas e propor soluções em sua área de competência, [...], com compromisso no âmbito socioeconômico e ambiental”.
Machado e Soares (2003)

Bom! A ideia principal aqui não é mesmo protocolar estratégias de como trabalhar a EA na eng. florestal, afinal de contas isto é uma discussão ampla, conjunta, institucional. Mas fazer aqui uma provocação, ao professor, ao profissional, ao estudante, ao recém formado, à sociedade em geral, sobretudo àqueles que atuam na formação e educação de outros seres humanos, todos carecemos como nunca da educação ambiental, e não só como uma maneira de fazer, tratar ou falar, mas como uma maneira de ser!  Se assumirmos na engenharia florestal uma maneira de 'ser', na forma de aplicar EA seja em processos produtivos ou não, mas, muito possivelmente veremos uma classe profissional ainda mais extensionista, comunicativa, e que gere ciência para além das porteiras da comunidade científica, também para a sociedade. Precisamos mesmo de maior sensibilidade para responder a agenda do desenvolvimento sustentável! E ai. Vais refletir mais sobre tudo isso?

*Com embasamento técnico de:
MACHADO, S. A. M.; SOARES, R. V. Evolução curricular da Engenharia Florestal da UFPR. In: MACEDO, José Henrique Pedrosa; MACHA DO, Sebastião do Amaral. A engenharia florestal da UFPR: história e evolução da primeira do Brasil. Curitiba: J. H. P. Macedo, 513 p., 2003.


FARIA, A. B. C. Estratégias Socioambientais para o ensino em Engenharia Florestal. Revista de Ensino de Engenharia, v.27, n.1, p.3-7, 2008.

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1 Comentários

  1. A nossa entidade, APRENAC- Associação de preservação da natureza e Cultura Popular dos Sertões de Canindé, estado do ceará, trabalhamos ações e processos de educação ambiental com escolas do ensino fundamental e médio, ainda com dirigentes de Associações Comunitárias de agricultores, trabalhamos com a coleta seletiva de resíduos sólidos e a produção e distribuição de mudas especies nativas com a população do campo e da cidade. Precisamos de ajudas para continuar este trabalho que estamos executando desde 2010, subsídios técnicos e indicativos de fontes financeiras/editais públicos e privados que possamos apresentar nossa proposta de trabalho. Sérgio Pinto- Diretor da APRENAC.

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