Imagem: Central Florestal


O açaizeiro é uma palmeira tropical nativa que, nos últimos anos, ganhou destaque no mercado nacional e internacional. Na Amazônia Brasileira as espécies com maior potencial de comercialização são a Euterpe precatoria, conhecida como açaí solteiro, mais comum no sudoeste da região, e Euterpe oleracea ou açaí de touceira, predominante nos Estados do Pará e Amapá.

O açaí faz parte da dieta alimentar, da história de vida de extrativistas e ribeirinhos em diferentes localidades amazônicas. De grande importância socioeconômica para a região Norte, é fonte de emprego e renda para as famílias, no campo e na cidade, e contribui para o PIB dos estados produtores.


Imagem: Central Florestal


Consumida principalmente em forma de bebida, a polpa de açaí é considerada um alimento funcional. Estudos indicam que os frutos contêm grande concentração de compostos bioativos, propriedades nutricionais e elevado valor calórico, além de serem ricos em antocianinas, proteínas, fibras, vitaminas e minerais. O produto é apreciado em diversas localidades do mundo como uma bebida inovadora, oriunda da biodiversidade amazônica, o que tem contribuído para o aumento da procura por frutos.

A Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados - ABRAFRUTAS destaca que somente o açaí exportado pelo estado do Pará experimentou um aumento de quase 15.000% nos últimos dez anos, demonstrando o crescente interesse global pela bebida.

Dados do IBGE indicam que em 2021 a produção brasileira de açaí, oriunda do extrativismo, foi 227.251 toneladas, com valor de R$ 771 milhões, ao passo que a produção de açaí cultivado foi seis vezes maior, ou seja, 1.485.113 toneladas, resultado que gerou mais de 5 bilhões de reais. O Estado do Pará, principal produtor, responde por mais de 96% da produção nacional.

No Acre, a principal fonte de frutos de açaí é o extrativismo, constituindo uma cadeia de extrema importância para produtores da região. No entanto, a produção é insuficiente para atender à demanda das agroindústrias locais, limitando a expansão da atividade. Em 2021, a área plantada com açaí no estado foi de apenas 130 hectares, com uma produção de 200 toneladas de frutos, liderada pelo município de Bujari (IBGE, 2021). Esses dados demonstram o quanto o cultivo racional da espécie ainda pode avançar, com o aumento da área plantada com a cultura, que pode resultar em mais renda para as famílias. 

Estudo realizado pela Embrapa, sobre o perfil das agroindústrias familiares de frutas do Acre, indica que a polpa de açaí é o principal produto processado no Estado e representa 83% da produção. Porém, garantir a oferta contínua de frutos ainda é um desafio para esses empreendimentos, que para suprir suas demandas buscam essa matéria prima em estados vizinhos como Amazonas e Rondônia e na Bolívia.

Outros fatores que também dificultam a expansão da cadeia do açaí no estado dizem respeito à dificuldade de acesso às áreas de produção, devido à inexistência ou precariedade das vias de escoamento e problemas inerentes à gestão dos empreendimentos. Neste sentido, o aumento da área de cultivo da fruta configura uma importante estratégia para ampliar a produção e fortalecer a cadeia no estado.

Considerando o potencial de exploração econômica da espécie na região, a Embrapa Amazônia Oriental, localizada em Belém (PA), desenvolveu e recomendou duas cultivares de açaí de touceira: a “BRS Pará”, lançada em 2005, para cultivo em terra firme, e a “BRS Pai d’Égua”, lançada em 2019. Esta última apresenta como principal característica a produção na entressafra, aspecto que representa uma alternativa viável para garantir a oferta de frutos o ano todo e alternada com a produção extrativista.

A maior parte dos cultivos de açaí no Acre é formada com a “BR Pará”. No entanto, alguns produtores têm investido na produção de mudas para formação de plantios a partir de sementes de açaí solteiro, nativo da região, cuja bebida é mais apreciada pela população local. Devido à falta de cultivares desenvolvidas a partir dessa espécie, os produtores/viveiristas obtém as sementes de plantas nativas, vigorosas e produtivas, de porte baixo e isentas de pragas e doenças.

Mesmo com essa seleção, a variabilidade genética do material obtido é muito elevada, fator que pode resultar em grande diversidade de plantas, desuniformidade nos cultivos e redução na produtividade. Para contornar esse problema, Unidades da Embrapa na região Norte realizam pesquisas com foco no desenvolvimento de uma cultivar de açaí solteiro. No Acre, esse trabalho envolve o melhoramento genético da espécie a partir de materiais coletados em oito municípios do estado.


Fonte: Arquivo Embrapa.

O estudo trará resultados importantes para a cultura, como a produção de sementes de qualidade para plantios comerciais e informações sobre a interação da planta com o ambiente.  Além disso, outras pesquisas com açaí solteiro têm sido realizadas para orientar os produtores em relação às tecnologias para o cultivo da espécie, como a produção de mudas, nível adequado de sombreamento e consórcio com outras plantas.

A expectativa é que em poucos anos produtores da região possam contar com cultivares de açaí mais produtivas para atender às exigências do mercado, nos períodos de safra e entressafra, e para o fortalecimento da cadeia e da biodiversidade amazônica.


Por | ¹Jacson Rondinelli da Silva Negreiros e ²Cleísa Brasil da Cunha Cartaxo

¹Engenheiro-agrônomo, doutor em Genética e Melhoramento de plantas - Pesquisador da Embrapa Acre; 

2Engenheira-agrônoma, mestre em Horticultura - Pesquisadora da Embrapa Acre

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