Conversamos com Dr.
Nelson sobre mercado, crise econômica, profissão, projeções e engenharia
florestal
A Central Florestal na busca
constante em contribuir com uma importante plataforma de informações sobre
assuntos referentes ao Setor Florestal brasileiro, sobretudo tendo um público
alvo, o acadêmico e profissional, visa buscar o desenvolvimento crítico dos
nossos leitores sobre temáticas corriqueiras da Engenharia Florestal e áreas
afins, para que o estudante de graduação, Pós-graduação, Professores, Pesquisadores
e Profissionais em geral, possam gradativamente acrescentar-lhes a noção de uma
profissão pautada pelo senso crítico e senso comum, de modo a elevar a
Engenharia Florestal brasileira a patamares mundiais.
Assim, é com muita honra e satisfação, que
entrevistamos hoje Nelson Barbosa Leite, o nosso primeiro
entrevistado do CF é uma referência única na Silvicultura Brasileira. Ele que é
Engenheiro Agrônomo – Silvicultor, pela ESALQ, Diretor da Teca Serviços
Florestais e Daplan Serviços Florestais, é ainda colunista do Site Painel
Florestal e articulista do Celulose Online.
Nelson Leite, conversou com Central Florestal e
aceitou o convite para dialogar conosco sobre “Floresta, silvicultura e
os novos profissionais do Brasil”, essa entrevista tem por finalidade
esclarecer a partir da ótica de um especialista e ícone florestal, as verdades
sobre a situação atual do setor florestal no país, e as perspectiva do presente
e do futuro, aos novos Engenheiros Florestais, profissionais de áreas afins e
aos novos negócios.
Nelson Barboza Leite, além de formação acadêmica
agronômica, trabalhou em empresas florestais, indústrias, instituições de
pesquisas e presidiu a Sociedade Brasileira de Silvicultura (SBS). A entrevista
foi realizada pela Coordenação de Redação do Central Florestal, Leiam
na íntegra abaixo:
Central Florestal – Diante do cenário de crise econômica
no Brasil, quais as perspectivas aos novos Engenheiros Florestais e de áreas
afins, no que diz respeito aos efeitos da crise na hora de prospectar vagas de
emprego nas grandes empresas, indústrias, e outras instituições?
Nelson Barboza Leite – A crise afetou toda a economia.
No setor florestal os investimentos em novos projetos estão praticamente
zerados! A prestação de serviço está com ociosidade, muitos viveiros fechando,
enfim, toda a cadeia produtiva é afetada. As grandes empresas consumidoras
também diminuíram suas programações. Essa madeira que não está sendo plantada
vai fazer falta, lá na frente.Com certeza, teremos problemas de
suprimento de madeira em algumas empresas. Nesses momentos de crise é mais
difícil para os profissionais sem muita experiência. Profissionais competentes
criam empregos. Criam serviços especializados e vencem com mais facilidade
esses períodos. É difícil para todos, mas os mais competentes e com alguma
especialização, sempre conseguem melhores condições de trabalho. A competência
vale muito nesses momentos. É preciso lembrar que competência é a soma de
conhecimento técnico e experiência com responsabilidade, comprometimento,
seriedade e, acima de tudo, ética. Acredito que essa crise vai abrir
novos caminhos ao setor florestal brasileiro!
Central Florestal – Como o senhor vê a situação da
silvicultura brasileira para os próximos anos?
Nelson Barboza Leite – A silvicultura
precisa ser repaginada. Estamos muito dependentes dos grandes produtores
de celulose e de painéis. A siderurgia a carvão vegetal, por exemplo, precisa
ser revigorada como política de Governo, assim como a biomassa para geração de
energia, o desenvolvimento tecnológico para biorrefinarias, etc.
Ficamos muito focados na produção de madeira para um grupo restrito de
consumidores! A silvicultura precisa olhar de forma mais abrangente para as
necessidades da sociedade! Há necessidade dos serviços ambientais e
sociais das florestas, da madeira para diversos usos e de inúmeros produtos da
floresta. Ainda somos, apesar de determos a maior floresta tropical do
mundo, o ”país do ferro e do aço” e precisamos mudar essa situação! Temos
participação muito pequena no mercado internacional de produtos florestais.
Somos os campeões da celulose! Isso é muito pouco para o potencial que temos.
Há espaço para muito mais! Precisamos de alguma forma abrir oportunidades para
nossas florestas naturais e para a silvicultura com as espécies nativas! São
mundos com muitas oportunidades e fizemos muito pouco, ainda! Não há o
menor sentido para o país mais rico em biodiversidade, ser
reconhecido e respeitado internacionalmente por sua silvicultura de
meia dúzia de espécies exóticas! Com as espécies nativas, com certeza, também
teremos madeira e outros serviços e produtos da floresta. Teremos chance de
revegetar as áreas ambientalmente mais sensíveis e nossas nascentes! São
dívidas que temos com as gerações futuras! Mas essas oportunidades
precisam ser alavancadas com políticas públicas. E esse desafio
precisa do empenho do engenheiro floresta! E precisamos fazer com que as
universidades também assumam essa luta. A silvicultura de produção – a do metro
cúbico - está muito limitada aos interesses de poucos consumidores. Gente que conseguiu
financiar pesquisas e desenvolver o setor, mas que inibiu o surgimento de
outras alternativas! Nada contra e mérito a quem
conseguiu seus objetivos. Mas temos que registrar e lamentar
a escassez de negócios e oportunidades dos demais segmentos
da engenharia florestal !
Central Florestal – O senhor pode nos fazer uma análise
de projeção da evolução da silvicultura e setor florestal em geral no Brasil?
Nelson Barboza Leite – A silvicultura
brasileira se desenvolveu maravilhosamente bem. Pena que não deu oportunidade
às espécies nativas. A ciência para o eucalipto e o pinus atingiu altíssimo
nível de desenvolvimento. Somos campeoníssimos de produtividade e
competitividade. Tudo como resultado do trabalho das universidades,
instituições de pesquisas e empresas. Há, no entanto, grande diferença
entre o desenvolvimento das florestas plantadas e o tratamento que damos às
florestas nativas. As diferenças são tantas, que fizeram com que cada
assunto, fosse tratado em ministérios diferentes! Essa é uma aberração, quando
se tem um Serviço Florestal Brasileiro. Esse desajuste precisa ser repensado
para facilitar o crescimento de toda a atividade. A ciência florestal se
desenvolveu sem se preocupar em distinção disso ou daquilo e o engenheiro
florestal está preparado para lidar com todos esses assuntos. Florestas
plantadas e florestas naturais usam caminhos diferentes, mas se utilizam de
base científica, que respeitando as particularidades de cada segmento!
Precisamos ser campeões de tudo isso! Há muito a se fazer, e as oportunidades
estão à disposição!
Central Florestal – Para o senhor, as Universidades
brasileiras conseguem cumprir o papel de formar Engenheiros preparados para
atuar na produção de florestas no Brasil? No que estas instituições podem
melhorar?
Nelson Barboza Leite – As universidades
formam excelentes profissionais, com boa base de conhecimentos técnico e
científico, mas em alguns casos, um pouco distante da realidade do
profissional. Se o profissional quiser trabalhar na Amazônia, por exemplo,
dificilmente, terá condições de ser bem preparado, formando-se nas
universidades do sul e sudeste. Há grande esforço de brilhantes professores
para sanar tais deficiências, mas não é fácil levar a Amazônia para as salas de
aula do sul e sudeste do Brasil. São dificuldades, que vão além da disposição e
boa vontade dos professores. Os estudantes, em sua grande maioria, estão
preparados para lidar com esses assuntos – produção, meio ambiente, etc.
– mas as grandes demandas, ainda estão concentradas e apoiadas com recursos dos
negócios ligados ao eucalipto e pinus! É imprescindível aos estudantes, às
universidades e instituições de pesquisa essa aproximação às demandas do
mercado! Mas a ciência e preparação de profissionais precisaria
atentar-se, um pouco mais, às demandas de longo prazo e principalmente aos segmentos,
que não dispõe de recursos de interessados na solução imediata de seus
problemas, como é o caso das pesquisas com espécies nativas e do
desenvolvimento técnico para se lidar com nossas florestas naturais.
Central Florestal – Mesmo sendo Engenheiro Agrônomo, o
senhor tem competência suficiente para falar de floresta com muita autoridade,
mas o que o senhor nos diria sobre o papel da Engenharia Florestal no
desenvolvimento constante da silvicultura florestal brasileira?
Nelson Barboza Leite – A silvicultura
brasileira só se desenvolveu graças à integração das universidades,
instituições de pesquisas e o irrestrito apoio de grandes empresas consumidoras
de madeira. Com isso, alavancaram-se as pesquisas, surgiram brilhantes
profissionais e toda essa movimentação deu origem aos cursos de
engenharia florestal. Ao longo do tempo, os interesses econômicos foram
consolidando diferentes segmentos. Atualmente, a distinção que se
faz entre florestas plantadas e florestas nativas só
atrapalha a engenharia florestal. E cria dificuldades à própria
silvicultura de produção ou do “ metro cúbico” – eucalipto, pinus e
outras espécies comerciais e a silvicultura de proteção – com espécies nativas.
Essa distinção inibe o apelo ambiental dos plantios florestais com
espécies exóticas, mesmo quando sâo feitos com tecnologia e respeito aos
valores sociais e ambientais! É uma pena, pois essa silvicultura bem feita, é
extremamente importante do ponto de vista econômico e importante para suprir as
necessidades da sociedade e embute importantes valores sociais e
ambientais. Mas há muitos silvicultores, que se dizem agricultores de
árvores, que acham que esse apelo ambiental não ajuda em nada a atividade
de produção! Há de se conviver com essas diversidades. Mas todos perdem!
Central Florestal – Que relação o senhor vê entre a
silvicultura e as discussões atuais sobre a agenda do desenvolvimento
sustentável do mundo?
Nelson Barboza Leite – Essa agenda é muito
ampla, mas sempre as atividades silviculturais farão parte do conjunto de ações
para produção de bens e proteção dos valores sociais e ambientais da
sociedade. A madeira, a água, a biodiversidade são exemplos de bens
indispensáveis à sociedade e que podem ser bem ou mal administrados em função
de uma silvicultura bem ou mal conduzida! A silvicultura do metro cúbico, a
silvicultura de proteção, o manejo de nossas florestas nativas e tudo que faz
parte desses conjuntos, estão nas mãos do engenheiro florestal para ser
trabalhado, pesquisado e gerar bens econômicos, sociais e ambientais a toda
sociedade.
Central Florestal – Como resolver a questão do
pré-conceito ambiental que existe para com as florestas plantadas, sobretudo
povoamentos de eucaliptos?
Nelson Barboza Leite – Precisamos
desenvolver um amplo Programa de Comunicação que mostre a nossa atividade em
toda sua abrangência. Comunicação profissional e institucional, que chegue nas
escolas e faça a sociedade sentir o valor de uma árvore plantada, de uma
floresta comercial e de uma floresta natural. Coisas muito diferentes, com
objetivos diferentes, mas essencialmente necessárias à sociedade. Precisamos de
uma comunicação educativa que ensine a população a gostar da árvore plantada, a
respeitar a árvore de produção e louvar a árvore de proteção! Cada um em seu
lugar! Qualquer defesa do eucalipto feita pelos grandes consumidores de madeira
de eucalipto será sempre suspeita! Esse pessoal, que tem dinheiro e que precisa
mostrar que o eucalipto não é o diabo que se prega, há de entender que essa
comunicação é tarefa para profissionais do ramo. É uma difícil tarefa, mas
imprescindível à silvicultura brasileira!
Central Florestal – Dá para confiar integralmente na
silvicultura brasileira no que diz respeito ao suprimento de demandas de
produção, energia, madeira, etc?
Nelson Barboza Leite – Não há nenhuma
dúvida. O Brasil tem competência tecnológica, espaço e empreendedores com
disposição para qualquer negócio. Há necessidade que se estabeleçam políticas
públicas que permitam a viabilidade econômica desses negócios. Nem se pensar em
benesses do Governo! Mas em trabalho profissional, em bases reais, sem sonho e
fantasias. Trabalho para gerar riquezas à toda sociedade e com
oportunidades a todos, que fazem silvicultura com responsabilidade,
comprometimento, justiça e ética!
Central Florestal – Norte, Nordeste, Centro-Oeste,
Sudeste e Sul, em quais regiões a silvicultura se desenvolverá com maior
expansão? Para onde o senhor recomenda que os novos profissionais possam estar
mais atentos para as oportunidades florestais?
Nelson Barboza Leite – Cada região tem suas
necessidades e características bem definidas. As demandas e o nível tecnológico
também são muito diferentes nessas regiões. O profissional precisa entender o
que isso significa e como vai ser sua vida profissional em cada região. Há
semelhanças, mas os desafios vão exigir procedimentos e atitudes
diferentes. Essa visão precisaria ser detectada nas universidades para evitar
frustrações e melhor direcionamento da força de trabalho melhor preparada.
Essas diferenças e desafios fascinam alguns profissionais e desestimulam outros.
Não se surpreenda, procure conhecer no banco universitário a realidade
florestal de cada região. Em todas, há muito a se fazer!
Central Florestal – Há espaço para novos negócios
florestais no Brasil neste momento de crise?
Nelson Barboza Leite – Há sempre espaço para novos
procedimentos, novos produtos, enfim, inovações. Aqui entra a competência
profissional. Em épocas de crise, tudo é mais difícil! Essa crise está
mostrando a necessidade de se rever os procedimentos silviculturais de alto custo,
mesmo que sejam para aumento da produtividade! Como usar clones de
altíssima produtividade, mas que exigem altas dosagens de adubo e são altamente
sensíveis a mato-competição? Não é só uma questão econômica. É acima de tudo, a
falta de recurso, que vai limitar a decisão! Como agir? Esse exemplo é
emblemático! A silvicultura brasileira para se manter competitiva não
pode só pensar em aumentar a produtividade com mais e mais insumos, cada vez
mais caros e mão-de-obra mais difícil e escassa! Esse bolo precisa de
muito ingrediente diferente para dar ponto! É questão de economia, de genética,
de fisiologia, enfim, é um conjunto de conhecimentos do engenheiro
florestal, que precisa ser combinado para se conseguir o resultado desejado!
Isso tudo vai exigir mais pesquisas para muitas perguntas sem respostas!
Central Florestal – Essa é a nossa última pergunta, e
gostaríamos que o senhor deixasse uma mensagem de ânimo aos nossos estudantes
de Engenharia Florestal, áreas afins e recém-formados, sobre o mercado de trabalho,
o cenário de oportunidades e tudo aquilo que influencia na carreira
profissional.
Nelson Barboza Leite – A engenharia
florestal é uma profissão encantadora. Nossas universidades são boas e em todas
há brilhantes professores, que são orientadores e amigos de coração.
Acredito que o primeiro e grande desafio do estudante é encontrar na
universidade esse amigo “de coração”. Ele vai ensinar as trilhas para que sua
vida profissional seja uma eterna satisfação. A engenharia florestal está em
toda nossa vida. Não se precipite, tenha cautela. Não se canse de perguntar, de
ouvir, de ir ver! Essa curiosidade é importante para o estudante ter
certeza do que gosta, e do que vai fazer a vida toda! Sabendo do que gosta, com
um bom orientador do lado, fique tranquilo, a vida profissional vai ser uma
beleza. Há muito a se fazer. E nós todos precisamos construir e
consolidar essa maravilhosa carreira profissional. Se tiver de bem com tudo
isso, o dinheiro aparece! Um fortíssimo abraço a todos. Acredito muito na profissão
e meus quatro adoráveis filhos, também estão metidos nessa luta!! Graças
a Deus!
Leitores, o que acharam dessa entrevista?
Deixe seu comentário abaixo, eles são muito importantes para nós!
Um material muito proveitoso e animador. Parabéns pelo trabalho.
ResponderExcluirUm grande abraço e parabéns. Saudades, Jayme Schtruk.
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