As árvores operam em seu limite de captação de água do solo, qualquer mínima mudança na disponibilidade hídrica, pode levar os ecossistemas ao colapso
Mudanças nos padrões de chuva e aumento das temperaturas associadas à mudança climática podem causar um declínio generalizado da floresta em regiões onde as secas estão previstas, podendo aumentar em duração e severidade. Uma das principais causas de perda de produtividade e mortalidade de plantas durante a seca é a falha hidráulica. O estresse hídrico cria êmbolos de gás (embolia) aprisionados no sistema de transporte de água, o que reduz a capacidade das plantas de fornecer água às folhas para as trocas gasosas fotossintéticas e pode resultar em seca e morte dos indivíduos sujeitos a essas falhas.
As árvores “sugam” a água e nutrientes do solo através dos
vasos do xilema, esse processo gera uma pressão negativa (menor que a pressão
atmosférica) fazendo com que a água suba até as folhas. Essa água poderá ser
utilizada nos processos de fotossíntese. Em períodos de muita seca, os
estômatos se fecham para economizar a pouca água disponível, diminuindo os
processos de evaporação e impedindo assim que o vegetal entre em colapso.
O processo de capturar e transportar a água do solo através
do diferencial de pressão em períodos de falta de água, faz com que as folhas
criem uma pressão negativa enorme, formando bolhas de ar nos dutos do xilema. Se
esse processo ocorrer em poucos vasos a árvore pode se recuperar facilmente, no
entanto se ocorrer em mais da metade dos dutos do xilema a árvore pode entrar
em processo de seca permanente levando-a a morte.
Estudos liderada pelo pesquisador
Dr. Brendan
Choa (Western Sydney University) demonstraram que as árvores vivem no
limite suportado para sua sobrevivência. Eles utilizaram dados provenientes de
480 espécies de 172 locais, com 384 angiospermas e 96 espécies de gimnospermas.
O
artigo completo pode ser acessado aqui > https://www.nature.com/articles/nature11688
Essas descobertas fornecem uma visão
sobre porque o declínio da floresta induzido pela seca está ocorrendo não
apenas em regiões áridas, mas também em florestas úmidas, normalmente não
consideradas em risco de seca.
Os pesquisadores chegaram a uma conclusão que a maioria das espécies do estudo,
226 de 81 locais em todo o mundo operam próximos a sua margem de segurança, na
captação de água do solo. Elas estão,
portanto, expostos à falha do xilema durante chuvas baixas de uma maneira que é
amplamente independente da região e bioma, ou seja, as espécies estão captando
água com grandes chances de seus sistemas de vasos colapsar, chamada embolia
irreversível.
As estratégias de tolerância à
embolia aparentemente arriscada, vistas
em angiospermas, sugerem que essas plantas podem ter uma maior capacidade de
reverter a embolia, um processo pelo qual o gás é dissolvido e os dutos são
restaurados a um estado funcional. Embora esse processo ainda seja mal
compreendido, está claro que a recuperação só pode ocorrer se os períodos de
seca forem seguidos por precipitação suficiente para o retorno ao estado
hídrico favorável. Portanto, o reabastecimento não representa uma estratégia de
escape eficaz para mitigar os efeitos de uma seca severa e persistente.
Os resultados do estudo permitiram
chegar a uma conclusão que mesmo uma árvore que vive em clima com boa
distribuição hídrica está operando no limite de sua captação, logo se a
quantidade de água reduzir um pouco, ela corre risco de embolia irreversível.
Esse processo ocorre também com árvores presentes em climas com menor
disponibilidade de água.
Em outro recém estudo publicado pelo
grupo de pesquisadores da Western Sydney University alerta ainda para outro
problema relacionado à seca e vulnerabilidade das florestas, nomeadamente os
incêndios florestais. O estudo publicado em 2020 (https://www.mdpi.com/1999-4907/11/7/779) mostra que novos regimes de fogo
têm o potencial de levar à extinção de espécies e causar muitas mudanças nos ecossistemas,
com uma série de consequências para os serviços ecossistêmicos. Apesar da co-ocorrência
de incêndios florestais com a seca, as abordagens atuais de modelagem da
inflamabilidade, até então não haviam atentado às correlações com
vulnerabilidade das plantas à seca.
Por | Editorial Central Florestal - Divulgação
Científica
Em 07 de Janeiro de 2021
Com informações de:
Choat, B., Jansen, S., Brodribb, T. J., Cochard, H., Delzon,
S., Bhaskar, R., … Zanne, A. E. Global convergence in the vulnerability of forests to
drought. Nature, 491(7426), 752–755, 2012.
Nolan
RH, Blackman CJ, de Dios VR, Choat B, Medlyn BE, Li X, Bradstock RA, Boer MM.
Linking Forest Flammability and Plant Vulnerability to Drought. Forests.11(7):779, 2020.
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