ENTREVISTA
Por:
Luciano C. J. França, 02 de agosto, 2020
Dr. McTague é reconhecido na comunidade científica como um
dos mais importantes biometristas florestais do mundo no desenvolvimento de
modelos aplicados ao manejo florestal
No mundo, importantes
cientistas são reconhecidos por contribuições valiosas neste ramo de pesquisa
da ciência florestal, dentre eles, o nosso entrevistado de hoje, o Engenheiro
Florestal estadunidense Dr. John Paul McTague, reconhecido como um dos mais
importantes biometristas da atualidade e, representante da indústria americana
no que concerne ao desenvolvimento de modelos aplicados ao empreendimento
florestal.
Formado em Engenharia Florestal na Syracuse University em 1974, teve em sua
formação, um semestre especial na Universidade Federal de Viçosa, no Brasil, em 1973.
Mestre em Economia Florestal na Yale University (1976) e doutor na University
of Georgia em Biometria Florestal (1985). Dr. Mctague foi gerente de pesquisa
de crescimento e de produção da Rayonier, Inc entre 2007 - 2018, uma empresa de
produtos florestais na Flórida. Foi também gerente do setor de biometria de
pesquisas de recursos florestais na International Paper, Inc. (1998-2004).
Dr. McTague tem quase
vinte anos de experiência na indústria de papel e celulose, sendo que cinco
destes anos (1981-1985) foram passados na Olinkraft, Ltda em Santa Catarina,
Brasil. Foi professor de biometria florestal na Northern Arizona University
(1985-1997), em que foi promovido a professor titular pelo conselho da Escola de Florestas
da referida instituição. Atuou como professor colaborador em diversas
universidades e, ainda hoje, colabora na University of Georgia e North Carolina
State University. Foi premiado com bolsas Fulbright em duas diferentes
ocasiões, quando então foi docente da USP: professor e pesquisador sênior em
1989 e MS-6 em 1996. Em 2019, atuou como Professor Visitante Estrangeiro na
Universidade Federal de Lavras, em Minas Gerais. Fez diversos trabalhos de
consultoria (entre 1985-1997) e foi sócio em uma firma de investimentos
florestais (2004-2007). Atualmente, o Dr.
McTague é gerente de sua própria empresa de consultoria, a Southern Cross
Biometrics, LLC, localizada em Fernandina Beach, na Flórida, EUA.
Sua
publicação, New and composite
point sampling estimates na Canadian Journal of Forest Research, em 2010,
foi considerado um método inovativo de amostragem florestal.
Nesta entrevista exclusiva concedida à Central Florestal, Dr. McTague conversou conosco sobre a
gênese da sua escolha pela ciência florestal, sua relação com o Brasil e sobre
os seus pensamentos e perspectivas sobre vários temas relacionados a engenharia, ensino e mercado florestal.
Central Florestal – Em 2019 o senhor esteve no Brasil
a atuar como professor visitante estrangeiro no Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Florestal da Universidade Federal de Lavras, em Minas Gerais. Como
foi para o senhor essa experiência no ensino acadêmico brasileiro?
John Paul McTague – Eu
já tinha alguma experiência com ensino de pós-graduação no Brasil, pois eu fui
um Professor Visitante Fulbright em 1989 e em 1997 na USP-ESALQ. Foi interessante constatar como mudou o quadro
de alunos de pós-graduação após duas décadas. Na área de biometria florestal,
temos uma presença bem maior de alunas, ou seja, Engenheiras Florestais
querendo se especializar em áreas quantitativas. O que está evidente também é
que os grandes centros acadêmicos de pesquisa estão recrutando alunos de
pós-graduação de todo Brasil. Este tipo
de integração nacional é louvável e representa uma força motriz nova para
alavancar desenvolvimento regional e no setor florestal no Brasil. A estrutura da UFLA está bem preparada para
atender os requisitos de um programa ‘world class’ de biometria florestal. Os
laboratórios informáticos são excelentes, e a instrução é boa. No entanto, eu
acredito que os alunos de pós-graduação poderiam ser um pouco mais
auto-suficientes e depender menos de ‘consenso de grupo’ na aprendizagem de
conceitos altamente especializados. Para ler os artigos científicos, tantos de
periódicos brasileiros quantos internacionais, e aplicar técnicas novas, os
alunos de pós-graduação precisam ter um domínio razoável de inglês. Este requerimento de inglês não é mais
opcional.
Central Florestal –
Como o senhor se interessou pela ciência
florestal e escolheu para a vida ser um engenheiro florestal?
John Paul McTague – A minha experiência não foi tão diferente de outros jovens
de origem urbana. Eu gostava imensamente
das férias que a nossa família tirava na região de florestas e daquele tempo
curto que passávamos nas cabanas rústicas.
Em outras palavras, foi uma noção romântica da vida de um Engenheiro
Florestal, bem diferente do confinamento de um escritório. Gravitei
eventualmente para um interesse focando em Economia Florestal, e ainda hoje
consigo lembrar como eu lia de capa a capa, as publicações plurianuais de
planejamento, economia, e desenvolvimento do Governo Brasileiro na década
70. Na década 70, saiu a calculadora
programável, e eu consegui finalmente ajustar minhas próprias equações de
volume e hiposométricas! Daí, nada me
segurou, e eu queria aprender mais sobre distribuições diamétricas e modelos
complexos de produção. Em 1981, voltei para
os Estados Unidos a fim de obter um Ph.D. em biometria florestal.
Central Florestal – Quais as principais diferenças no mercado/indústria florestal
estadunidense em comparação a brasileira?
John Paul McTague – Nos EUA, a construção de
residências é feita quase exclusivamente com madeira. A madeira barateia o
custo de construção, principalmente no que diz respeito à rapidez da
construção. Devido às propriedades
térmicas, a madeira ajuda também diminuir os custos com ar condicionado e
calefação central. O uso de papel
imprensa e papéis para imprimir está em forte declínio nos EUA, e não vejo como
será possível reverter esta tendência. Mesmo
com menos ênfase em manejo de florestas para produtos múltiplos, acho que o
sortimento de toras, tanto no pátio da fábrica ou na floresta pode ser
melhorado sensivelmente nos EUA. Sortimento, baseado em informações de
qualidade de madeira, principalmente nas propriedades de densidade básica e
módulo de elasticidade, pode tornar a empresa mais eficiente e lucrativa. Tomara que um dia o sortimento moderno que
incorpora informações de qualidade de madeira seja uma prática comum com as
grandes empresas florestais de todo o Brasil.
Central Florestal – O senhor tem grande relacionamento
com o Brasil. Como as experiências com o país impactaram sua visão sobre a
ciência florestal brasileira?
John Paul McTague –
Quando iniciei a minha carreira em 1976 em Otacílio Costa, SC a minha visão
estava focada em adquirir por uns anos experiência professional suficiente para
mudar depois para um centro maior e para ter maiores oportunidades de subir na
gerência da empresa. Na realidade, eu saí
ganhando bem mais do que experiência professional. Vi, senti, e vibrei com o impacto que o nosso
trabalho da empresa teve na comunidade e a melhoria da saúde, habitação, e
educação do povo. Eu senti que o meu
trabalho fez uma diferença pequena, mas importante, no desenvolvimento rural do
estado. Hoje em dia, a situação não é
tão diferente para o engenheiro florestal recém formado. O setor florestal está cada vez mais
presentes nos estados do oeste e do norte. Engenheiros florestais podem ter um
impacto extremamente importante no manejo sustentável das florestais tropicais e
semiáridas e no bem estar do povo da região.
Os desafios são grandes, mas acredito que o desejo dos engenheiros
florestais recém formados de fazerem uma contribuição no desenvolvimento do
país é maior ainda.
Central Florestal – Qual é o maior desafio do manejo e
mensuração florestal contemporâneos, sobretudo para as próximas gerações?
John Paul McTague – Já faz
várias décadas que os provedores estão alegando que o inventário florestal pode
ser executado com maior precisão e por um custo menor com as ferramentas de
sensoriamento remoto. Não resta dúvida
que existe bem mais plataformas de sensores hoje em dia e que houve avanços
imensos na interpretação de imagens, principalmente na estratificação, e no
cálculo de área e de altitude. O que
falta ainda é uma integração entre interpretação de imagens e amostragem.
Interpretação de imagens fornece informações ‘auxiliares’, e não informações
‘principais’. Qualquer vendedor ou
provedor de imagens que promete entregar um inventário florestal sem sequer
instalar parcelas de inventário na floresta objeta, não têm domínio das
técnicas de amostragem, está enganado, e cheio de promessas falsas.
Central Florestal – Professor, em nossa última pergunta, o senhor pode deixar
uma mensagem de alento e engajamento para os jovens acadêmicos e aos
profissionais do setor florestal brasileiro?
John Paul McTague – Em
2020 confrontamos a realidade que existe 75 cursos de Engenharia Florestal no
país. Independentemente de qualquer medida
que o MEC possa tomar no futuro, haverá uma tendência deste número de cursos
diminuir, baseado na lei da oferta e da procura. Os cursos que vão durar são aquelas
instituições com programas de ensino e de pesquisas de alto gabarito. Os jovens
pensando em cursar Engenharia Florestal deveriam então escolher o melhor curso
acadêmico ao seu alcance. Os alunos de
pós-graduação deveriam escolher um curso após uma análise crítica do corpo
docente usando Plataforma Lattes. Os departamentos de Recursos Humanos das
empresas florestais podem e devem prestigiar os melhores cursos, dando
preferência aos seus alunos. Além do
excesso de cursos de Engenharia Florestal no país, há um excesso de periódicos
científicos de pesquisas florestais. Com
tantas revistas, não é surpreendente que a qualidade dos periódicos brasileiros
é aquém das grandes revistas internacionais como Forest Ecology and
Management, Forest Science, e Canadian Journal of Forest Research. Não sei qual seria o melhor mecanismo para
diminuir a quantidade de revistas e aumentar a qualidade dos artigos, mas
acredito que várias universidades poderiam se juntar voluntariamente, e formar
um consórcio. O consórcio seria independente das cooperativas de pesquisas e
dos departamentos de ciências florestais, e focado apenas e publicar trabalhos
com conteúdo e rigor que iguala aos níveis internacionais.
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Este comentário foi removido pelo autor.
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ResponderExcluirÓtima entrevista, até eu aprendi coisas sobre a carreira de meu pai.
Dr McTague is one of the most important researchers in such area. Worldwide known
ResponderExcluirNossa,que legal,
ResponderExcluirTive uma noção um pouco melhor de como funciona a engenharia florestal,e também peguei pra mim a chinelada sobre alunos de pós graduação saber ler artigos em inglês, porque inglês não é mais opcional,🙄
excelente entrevista. Parabéns, Luciano.
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