É na onda da intensificação dos processos
produtivos, e não da exploração de novas áreas, tal como com o avanço no debate
dos Sistemas Agroflorestais no Brasil e o papel do profissional eng. florestal
frente todas as áreas de atuação da classe, é que a Central Florestal resolveu
abordar este tema como matéria especial. Acompanhe!
Em termos da conceituação, os Sistemas
Agroflorestais ou SAFs, são “consórcios de culturas agrícolas com espécies arbóreas
que podem ser utilizados para restaurar florestas e recuperar áreas
degradadas”, outra definição proposta por Daniel et al. (1999) diz que
“Sistemas agroflorestais são formas de uso da terra que envolvem deliberada
retenção, introdução, ou mistura de árvores ou outras plantas lenhosas nos
campos de produção agrícola/animal, visando obter benefícios resultantes das
interações econômicas, ecológicas e sociais" .
Os SAFS são classificados segundo sua
estrutura no espaço, seu desenho através do tempo e a função dos diferentes
componentes, bem como os objetivos da implantação. Podem ser categorizados como
as tipologias Alley Cropping, Taungya, Sistema
Multiestrato, Quebra – vento ou Capoeira melhorada. Para esta matéria, não
adentraremos às particularidades de cada sistema, o que ficará para uma outra
matéria, pois abordaremos o que chamamos de o principal componente integrante
desses sistemas, as árvores,
suas influências
e funções nos SAFs.
A árvores constituem um dos principais
componentes desse sistema, pois além de atuar nas melhorias ambientais podem
servir de renda extra para os produtores, seja na produção de frutos para
comercialização, produção de madeira para lenha e até mesmo para fabricação de
móveis.
PRINCIPAIS INFLUÊNCIAS
A presença do componente arbóreo nos SAFs
pode influir de maneira diferente no desenvolvimento do estrato vegetal
herbáceo, pois suas raízes competem com as raízes das plantas herbáceas e a sua
copa intercepta a luz necessária para a fotossíntese. Assim, o crescimento das
culturas em associação com espécies arbóreas pode ser prejudicado ou
favorecido, dependendo de fatores como o grau de sombreamento proporcionado
pelas árvores. A tolerância ao sombreamento, condição essencial em associações
entre culturas agrícolas e pastagens com árvores, pode variar sensivelmente
entre espécies.
As árvores podem influenciar também na
quantidade e disponibilidade de nutrientes dentro da zona de atuação do sistema
radicular das culturas consorciadas, principalmente pela possibilidade de
recuperar nutrientes abaixo do sistema radicular das culturas agrícolas e
pastagens e reduzir as perdas por lixiviação e erosão. Dessa maneira, a
ciclagem de nutrientes minerais, em termos de sustentabilidade, é maior nos
sistemas agroflorestais.
PRINCIPAIS FUNÇÕES
As árvores são responsáveis por desempenhar
três papeis fundamentais nos SAFs o ambiental, econômico e o social.
AMBIENTAIS
Solo: As árvores presentes no sistema
agroflorestal são responsáveis pela formação de serrapilheira (deposição de
folhas e materiais diversos), que é fundamental no retorno da matéria orgânica
para o solo. O fluxo de nutrientes solo-planta-solo beneficia tanto as árvores
como as culturas agrícolas. A adubação
ocorre naturalmente, não sendo necessário o uso de insumos químicos.
Água: Nos sistemas agroflorestais, as árvores
ajudam a aumentar a capacidade de infiltração da água da chuva no solo. As
folhas e materiais orgânicos que cobrem o solo contribuem para a manutenção e
armazenamento da água disponível na propriedade.
Fauna: A diversidade de plantas presentes nas áreas
de SAF contribuem para alimentação e abrigo da fauna local. É comum o
reaparecimento de animais silvestres, especialmente aves.
ECONÔMICOS
Poupança verde: A produção
de madeira a partir das árvores que compõem o SAF constituem uma poupança a
médio e longo prazo.
SOCIAIS
Sequestro de carbono: As árvores atuam retendo o CO1 liberado na
atmosfera e transformando-o em biomassa.
Regulação do clima: A presença de árvores nos SAFs ajuda a reter
mais umidade tanto no solo quanto dentro do próprio sistema, fazendo com que o
mesmo se torne mais agradável.
Sendo assim a utilização de árvores é
fundamental para a recuperação das funções ecológicas, uma vez que possibilita
o restabelecimento de boa parte das relações entre as plantas e os animais. Os
componentes arbóreos são inseridos como estratégia para o combate da erosão e o
aporte de matéria orgânica, restaurando a fertilidade do solo. Na fase inicial
de recuperação, deve ser feito o plantio de árvores de rápido crescimento, para
acelerar a disponibilidade de biomassa, o que irá promover a ciclagem de
nutrientes e permitir o plantio de espécies mais exigentes.
E A
AGRICULTURA SINTRÓPICA?
A
Agricultura Sintrópica é constituída por um conjunto teórico e prático de um
modelo de agricultura desenvolvido por Ernst Götsch, no qual os processos
naturais são traduzidos para as práticas agrícolas tanto em sua forma, quanto
em sua função e dinâmica.
Na
Agricultura Sintrópica o estabelecimento de áreas altamente produtivas e
independentes de insumos externos tem como consequência a oferta de serviços
ecossistêmicos, com especial destaque para a formação de solo, a regulação do
micro-clima e o favorecimento do ciclo da água.
O
plantio orientado pela sucessão natural e pela estratificação, respeitando a
função ecofisiológica de cada componente e garantindo que sejam plantadas,
desde o início, todas as espécies que irão compor os níveis dos Sistemas de
Placenta, de Acumulação e de Abundância ou Escoamento, são alguns exemplos dos
fundamentos básicos da teoria criada por Ernst Götsch que sustentam e orientam
a prática.
A
partir do entendimento de que a vida na Terra é a maneira pela qual o planeta
realiza sua função complexificadora, Ernst Götsch observa os mesmos eventos
naturais que costumamos observar mas chega a algumas conclusões bastante
distintas e com consequências poderosas o suficiente para reconhecermos nelas
alguns convites para uma mudança de paradigma.
SINTROPIA?
Ernst
Götsch escolheu o termo "sintropia" por ter a mesma etimologia grega
da palavra "entropia", deixando clara desde o início sua relação
dialética. Estamos mais familiarizados com o conceito de entropia que, dentro
da Termodinâmica, se refere à função relacionada à desordem de um dado sistema,
associada com a degradação de energia. Tudo que se refere ao consumo e
degradação de energia é, portanto, explicado pela Lei da Entropia. Por outro
lado, os sistemas vivos possuem a capacidade de vencer a tendência à entropia
por meio do crescimento e da reprodução, por exemplo. Mais evidente ainda é a
tendência dos sistemas naturais de evoluir no sentido de estruturas de
organização cada vez mais complexas.
Em
um macroorganismo os participantes agem de forma sinergética e, por meio de seu
metabolismo, realizam a tarefa de otimizar os processos de vida, aumentando a
organização e a complexidade do sistema como um todo.
A
tradução dessa lógica para os sistemas agrícolas produtivos é o que faz a AS
ser uma agricultura de processos e não de insumos. O resultado disso se
manifesta na forma de aumento de recursos e de energia disponível ou, como
Ernst Götsch costuma dizer, "no aumento da quantidade e da qualidade de
vida consolidada, tanto no sublocal de nossa interação quanto no planeta por
inteiro."
E O ENGENHEIRO FLORESTAL NISSO TUDO?
Atualmente os Sistemas Agroflorestais (SAF)
estão sendo utilizados na recuperação de áreas degradadas e tem se tornado uma
das alternativas com impactos positivos na geração de renda e recomposição da
vegetação necessária para a conservação e proteção das Áreas de Preservação
Permanentes.
Nas graduações de engenharia florestal, as
temáticas dos SAFs, juntamente com a tecnologia de produtos florestais não
madeireiros, tais como disciplinas, ainda são muito recentes nas pautas de
discussão, embora tendo assumido atualmente um papel importantíssimo na
formação do profissional. O engenheiro florestal por ter competências na
elaboração de PRAD (Projetos de Recuperação de Áreas Degradadas), tem também atribuições
para elaboração do planejamento de SAFs, para estes fins. De tal forma, de
acordo com o Manual de Fiscalização das Atividades da Engenharia Florestal
(SBEF, 2006) no tópico da “tecnologia florestal”, na atividade nº 9, da
competência ao Eng. Florestal à elaboração de planos de reflorestamento, onde atribui-se
“Projetos de recuperação ou manejo da paisagem”, o que inclui uma gama de
estratégias, sobretudo os SAFs.
Todavia, o grande desafio actual, é que os
profissionais assumam posição frente à disposição, prontidão e qualificação
para elaboração de projetos destes moldes em Sistemas Agroflorestais, de forma
colocar-se como mão de obra gestora e ofertante em atender demandas cada vez
mais crescentes nesta área. A luta pelo fortalecimento da engenharia florestal
no Brasil é constante! Um avante à todos!
Por Editorial Central Florestal
Manual
de Fiscalização das Atividades da Engenharia Florestal – Sociedade Brasileira
de Engenheiros Florestais – SBEF (2006)
http://agendagotsch.com/
Excelente matéria! Muitas pessoas desconhecem as competências de nossa profissão, Engenharia Florestal.
ResponderExcluirMuito bom! Excelente matéria, muita informação de qualidade.
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