EXCLUSIVO: Entrevista com Pesquisador Dr. Flávio Pereira, o introdutor e pai da Acacia mangium no Brasil.
Madeira nobre e de rápida produção tem atraído muitos investidores
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Flávio Pereira, responsável pela introdução da Acacia no Brasil é Doutor pela Universidade Federal de Lavras - UFLA |
O Central Florestal tem se tornado uma importante plataforma de
informações sobre assuntos referentes ao Setor Florestal brasileiro, sobretudo
tem como público estratégico, o acadêmico e profissional, onde buscamos o
desenvolvimento crítico sobre temáticas corriqueiras da Engenharia Florestal e
áreas afins, para que o estudante de graduação, Pós-Graduação, Professores,
Pesquisadores e profissionais em geral, possam gradativamente acrescentar às
suas percepções a noção de uma profissão pautada pelo senso crítico e senso
comum, de modo a elevar a Engenharia Florestal brasileira a patamares mundiais.
E é com muita honra e satisfação, que entrevistamos hoje o Pesquisador Dr. Flávio Pereira Silva, nosso segundo entrevistado do CF, ele que é conhecido como “O Pai da Acacia mangium” no Brasil, possui graduação em Engenharia Florestal pela Universidade Federal de Viçosa (1981), Mestrado em Ciências Florestais também pela UFV (1992) e Doutorado em Agronomia (Fitotecnia) pela Universidade Federal de Lavras (2000). Atualmente é pesquisador científico da área de silvicultura clonal do CENTRO TECNOLÓGICO DA ZONA DA MATA, em Viçosa - MG, aonde vem trabalhando, também, com outras espécies florestais de rápido crescimento e valor econômico comprovado, como o mogno africano (Khaya ivorensis e Khaya senegalensis); cedro australiano, cedro rosado, teca, paricá e dezenas de clones de eucalipto adaptados as mais diferentes condições ecológicas brasileiras. Tem 35 anos de experiência profissional na área de Recursos Florestais e Engenharia Florestal, com ênfase em Silvicultura clonal de espécies de rápido crescimento, e foi o pioneiro no desenvolvimento dos cinco primeiros clones da Acacia mangium, no Brasil, em 2010. Ele vem atuando principalmente nas áreas de florestamento e reflorestamento de Acacia mangium, Eucalyptus spp., espécies florestais com potencial moveleiro, moirões tratados, celulose, carvão, energia, dentre outros, Dr. Flávio ainda atua na área de ambiência e reflorestamento de áreas degradadas por ações antrópicas, sistemas silviagrícolas e agrossilvipastoris.
Conversamos com o Pesquisador Dr. Flávio Pereira, o qual dialogou conosco sobre “Acacia mangium, seu histórico e potencial madeireiro, melífero, tanífero e forrageiro”, essa entrevista tem por finalidade caracterizar a partir da ótica do maior ícone brasileiro em se tratando de acácia, bem com o responsável pela introdução e divulgação da espécie no Brasil, juntamente com a EMBRAPA. Esta espécie que vem apresentando excelente potencial comercial no setor florestal, nos permitirá entender seu histórico no país, rentabilidade, lucros, e as projeções do seu cultivo para os próximos anos, assim como sua atual situação no setor florestal brasileiro.
A entrevista foi realizada por Luciano França, Coordenador de Redação do
Central Florestal, Leiam na íntegra abaixo:
Central
Florestal – Pesquisador Dr. Flávio, inicialmente conte-nos um breve histórico de
como se deu a introdução da Acacia mangium no Brasil? E como o
senhor começou a trabalhar com a espécie? O que lhe chamou atenção?
Dr.
Flávio Pereira – A historia da Acacia
mangium no Brasil tem início com o surgimento de uma enfermidade
chamada “seca de ponteiro dos eucaliptos no Vale do Rio Doce – MG, que se
iniciou nos anos 1980, quando varias equipes de pesquisadores trabalhavam em
diferentes linhas de pesquisa na busca por uma solução para a enfermidade. Na
condição de pesquisador integrante das equipes, criei uma estratégia de ação
visando atuar na “busca por uma espécie alternativa que desenvolvesse bem na
região afetada pela enfermidade, sem apresentar os sintomas”. Naquela oportunidade,
a EMBRAPA que estava integrando as equipes de pesquisa, por intermédio do
extinto PNPF – Programa Nacional de pesquisa Florestal convidou um consultor
australiano para visitar a área afetada e eu tive a felicidade em acompanhá-lo
na visita aos plantios de eucalipto afetados. Em discussão durante nossa
viagem, solicitei-lhe uma sugestão de uma espécie florestal que pudesse ser uma
alternativa aos plantios de eucalipto naquela área, caso a enfermidade viesse
atingir níveis insustentáveis naquela região. Prontamente me foi sugerido
testar a espécie Acacia mangium e algumas espécies de
casuarinas. A sugestão foi então discutida com a coordenação do PNPF, que
em contato com a CSIRO (commonwealth
scientific and industrial research organisation), que enviou-nos
amostras de sementes de dezenove procedências distintas de acácia
da Austrália, Papua Nova Guiné e Indonésia e mais
algumas procedências de Casuarinas (duas espécies). Metade das sementes de
acácia foram testadas em Belterra (PA) e a outra metade no Vale do Rio Doce.
Neste último local, a espécie apresentou resultados surpreendentes em
crescimento e sobrevivência, superando, inclusive, muitas espécies de eucalipto
cultivados naquela região, à época. Os resultados de crescimento e produtividade
obtidos no Vale do Rio Doce deu origem a minha Dissertação de Mestrado e outros
artigos científicos que foram publicados, culminando com um intenso interesse e
procura por informações, por parte dos reflorestadores e pequenos silvicultores
das mais distintas regiões do Brasil, Paraguai, Uruguai, Argentina, Bolívia,
Colômbia, entre outros países Sul Americanos. Seu potencial de
crescimento, rusticidade, vigor, facilidade de estabelecimento no campo, boa
qualidade de madeira, capacidade de produzir néctar nas folhas durante todo ano
e produção de elevado teor de tanino na casca, despertou intensamente meu
interesse em continuar investigando a espécie e suas características
silviculturais, bem como divulgar os excelentes resultados obtidos para a comunidade
florestal.
Central
Florestal – Pesquisador Dr. Flávio, quais são as
principais características da acácia, que a diferencia de outras espécies
florestais comerciais?
Dr.
Flávio Pereira – Além do seu
elevado potencial madeireiro para energia, produz madeira sólida, aglomerados
ou laminados, de excelente qualidade para fabricação de móveis, papel e
celulose, é uma espécie leguminosa, fixadora de nitrogênio atmosférico, onde a
fixação, segundo relatos de pesquisadores do Vietnam, pode atingir até 500 kg
por hectare.ano. A casca do seu tronco e galho possuem elevados teores de
tanino, cuja substancia é muito empregadas na transformação do couro “in
natura” em couro beneficiado; também empregado na fabricação de colas e
adesivos, usados como floculante para decantação da água; na perfuração de
poços de petróleo e no branqueamento do açúcar. Suas folhas (filódios) são
ricas em proteína (até 42%) e são muito empregadas na fabricação de forragem animal,
permitindo seu aproveitamento para alimentação de bovinos e caprinos em
qualquer época do ano ou durante o período seco do ano, principalmente naquelas
regiões onde a pastagem seca durante o inverno e torna-se pouco
palatável aos animais. Além destes benefícios suas folhas possuem nectários
extraflorais que, a depender da disponibilidade de água no solo, exudam néctar
durante todo período do ano, proporcionando ao silvicultor a oportunidade de
explorar a apicultura consorciada, durante toda fase de crescimento dos
povoamentos de Acacia mangium. Um exemplo do potencial melífero da
espécie foi a obtenção de uma produtividade de 170kg de mel por colmeia, por
ano, em um plantio de 27.500 hectare da espécie plantada na região Norte do
Brasil, onde foi implantado um projeto de apicultura contemplando 7.200
colmeias e exportação de até 16 toneladas de mel por mês.
Central
Florestal – Pesquisador Dr. Flávio, o potencial madeireiro,
melífero, tanífero e forrageiro é o que tem atraído os olhares de produtores
brasileiros. Neste sentido, como se dá o cultivo desta espécie, manutenção,
custos de implantação, etc.? E qual a regra para uma boa produtividade em um
povoamento de acácia?
Dr.
Flávio Pereira – Trata-se de uma espécie rústica, tolerante a solos pobres e degradados,
além de ser muito competitiva com ervas daninhas, entretanto é inadequada para
cultivo em regiões de déficit hídrico acentuado ou locais sujeitos a geadas
muito fortes. O cultivo da Acacia mangium tem sua técnica de
plantio e manejo definida previamente, em função do uso final que se deseja dar
à madeira e seus subprodutos, podendo ser cultivada no sistema adensado, para
corte em ciclos curtos ou muito curtos, quando sua biomassa será destinada para
energia. Poder ser cultivada, também, em espaçamentos mais amplos, quando a
madeira destina-se à serraria ou laminação. Neste último caso, os povoamentos
deverão ser manejados por podas e desbastes intermediários. Outras formas de
cultivo da Acacia mangium contemplam o sistema silviagrícola
(acácia + culturas agrícolas anuais); sistema silvipastoril( acácia + pastagem)
e o sistema integrado, contemplando cultura agrícolas + Acacia +
pastagem + apicultura, conhecido como sistema agrossilvipastoril-apícola.
Drº Flávio Pereira, em eventos pelo Sudoeste da Ásia. |
Os
custos de implantação e manutenções para povoamentos puros são muito similares
aos das demais espécies florestais de rápido crescimento, quando se visa os
mesmos usos finais para as madeiras, ficando claro que se cultivada no sistema
adensado para ciclos curtos onde envolvem maior número de mudas por unidade de
área e consequentemente mais insumos e mais mão de obra para o plantio e
manutenções, este custos se elevam, da mesma forma que também ocorre com as
demais espécies florestais de rápido crescimento. È difícil falar em valores,
porque eles variam muito entre as diferentes regiões do país, tipo de solo,
clima, incidência de formigas e cupins e tipo de vegetação que recobre a área a
ser reflorestada. Em termos médios poderia se pensar em custos de implantação
da ordem de R$3.500,00 por hectare.
Dr. Flávio Pereira –
Perfeitamente. Não existe nenhuma restrição, uma vez que o cultivo da Acacia mangium proporciona a quaisquer produtores, a possibilidade de agregar um número maior de valores a sua produção de madeira por meio da exploração da apicultura (mel cera, própolis, etc), aproveitar a forragem oriunda das podas dos galhos, para alimentação do rebanho no período da seca e a comercialização das toras para serrarias e indústrias de tratamento de moirões, bem como da lenha oriunda dos galhos para olarias, cerâmicas, pizzarias, , hotéis e outras empresas, para substituição da energia elétrica ou queima de petróleo por lenha. Deve ficar claro que em todo e qualquer processo produtivo os empresários rurais, qualquer que seja sua categoria, deve procurar qualificar-se, previamente, o mínimo possível sobre seu processo produtivo e buscar sempre a assistência de um especialista experiente para auxiliá-lo em todas as fases do processo de produção, até que ele acumule os conhecimentos básicos e necessários para administrar seu negócio sozinho.
Uma
boa produtividade de madeira de Acacia
mangium, tem inicio com a escolha das condições de clima e solo adequados
para a espécie, seguindo-se a escolha de um material genético superior, devendo
o silvicultor dar preferencia por clones superiores ou na sua falta, optar por
sementes melhoradas e obtidas de instituições governamentais idôneas e
portadoras de suporte técnico qualificado. Caso tenha que optar pela aquisição
de sementes, evitar a compra de sementes em oferta em sites da internet
desconhecidos que oferecem sementes a preços irreais, para espécies florestais.
Soma-se aos fatores para obtenção de uma boa produtividade, a produção de mudas
de boa qualidade e bem formada; um bom preparo e fertilização de solo com a
prévia e devida correção da acidez, bom e eficiente controle de pragas,
doenças, ervas daninhas e fazer as fertilizações suplementares específicas e
calcadas em resultados de análises de solos.
Central
Florestal – Pesquisador Dr. Flavio, do pequeno ao grande
produtor, todos podem e conseguem cultivar acácia?
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Povoamento de Acácia Mangium – Crédito Flávio Pereira |
Perfeitamente. Não existe nenhuma restrição, uma vez que o cultivo da Acacia mangium proporciona a quaisquer produtores, a possibilidade de agregar um número maior de valores a sua produção de madeira por meio da exploração da apicultura (mel cera, própolis, etc), aproveitar a forragem oriunda das podas dos galhos, para alimentação do rebanho no período da seca e a comercialização das toras para serrarias e indústrias de tratamento de moirões, bem como da lenha oriunda dos galhos para olarias, cerâmicas, pizzarias, , hotéis e outras empresas, para substituição da energia elétrica ou queima de petróleo por lenha. Deve ficar claro que em todo e qualquer processo produtivo os empresários rurais, qualquer que seja sua categoria, deve procurar qualificar-se, previamente, o mínimo possível sobre seu processo produtivo e buscar sempre a assistência de um especialista experiente para auxiliá-lo em todas as fases do processo de produção, até que ele acumule os conhecimentos básicos e necessários para administrar seu negócio sozinho.
Central Florestal – Pesquisador Dr. Flávio, quais são as exigências da acácia para com
os solos brasileiro, e quais as principais pragas que ameaçam a espécie?
Dr. Flávio Pereira – A acácia apresenta baixa exigência em qualidade de solo, sendo
intolerante aos solos que permanecem encharcados por mais de 10 dias. No
entanto desenvolve bem em solos argilosos, arenosos, pedregosos, desde que
disponha de nutrientes e água satisfatória para seu desenvolvimento e
crescimento, durante o ano. Déficit hídrico acentuado por períodos prolongados
provocam a paralisação do crescimento das plantas e reduz
consideravelmente a produção de néctar nas folhas. Em termos de
pragas, é claro e notório que toda e qualquer cultura cultivada a céu aberto,
apresenta presença de pragas, em maior ou menor intensidade. O importante neste
caso é a determinação do nível de dano causado, requerendo ou não a
interferência do homem para manter a população de insetos em níveis aceitáveis.
Especificamente no que tange a Acacia
mangium, tem sido registrados em algumas regiões do país, casos de ataques
de formigas cortadeiras e cupins de solo, como pragas principais, além de uns
poucos casos isolados de serradores de galhos, este último caso, sem expressão
ou danos econômicos. Em alguns plantios feitos na Região Centro Oeste, onde
foram feitas podas sem as devidas técnicas específicas, emprego inadequado de
equipamentos e operações feitas em épocas impróprias do ano, foram registrados
casos de ataque de fungo nos locais de corte dos galhos (núcleo nodoso),
resultando na morte de algumas árvores adultas, razão porque os silvicultores,
antes de procederem às podas e desbastes devem buscar os conhecimentos de
Engenheiros Florestais especialistas e experientes no assunto.
Central Florestal – Pesquisador Dr. Flávio, em
termos de ganhos por produtividade, em quanto gira a rentabilidade da espécie
por hectare?
Dr. Flávio Pereira – A produtividade dos
povoamentos de Acacia e de outras espécies de rápido crescimento é função de
vários fatores ambientais, material genético empregado; práticas de manejo
silviculturais empregadas, uso final da madeira; exploração consorciada ou não
e obviamente das leis de demanda e oferta do mercado. Em caráter ilustrativo
podemos citar a produtividade de madeira de 64,6 m3 por hectare.ano obtida no Vale do Rio
Doce, aos 5,25 anos de idade (Silva, 1993) e 82,2 m3 por hectare obtidos em Parnamirim - RN
(Araujo, 2010). Entretanto esta produtividade pode oscilar bastante de
região para região, a exemplo de um plantio de 27.500 hectares estabelecido no
Estado de Roraima onde a produtividade média foi de 25 m3/há.ano. Em termos de
rentabilidade financeira é impraticável fazer afirmativas sobre qualquer valor,
más seguramente sua exploração tecnificada em consorcio com culturas agrícolas,
pastagens e apicultura, proporcionam maiores rendimentos por unidade de área
plantada que grande parte das demais espécies florestais de rápido crescimento
exploradas em monocultivos.
Central Florestal – Pesquisador Dr. Flávio, quais
os riscos de insucesso de investimentos em acácia?
Dr. Flávio Pereira – Em termos de
benefícios ambientais podemos afirmar que o plantio
de Acacia mangium atende a reposição florestal
exigida por lei, protege as terras contra a erosão e garante a manutenção das
nascentes e fontes de água, além de constituir um patrimônio de fácil e rápida
liquidez. Sua rusticidade e rápido crescimento possibilitam o
aproveitamento e a recuperação das terras impróprias para a agricultura,
enquanto a sua floresta cresce até 64,6m3/ha.ano,
em condições ideais, oferecendo a perspectiva de suprimento contínuo de madeira
na fazenda e nas indústrias de base florestal, rendendo divisas e contribuindo
para a preservação das florestas naturais. O risco de insucesso no
investimento feito no plantio da Acacia
mangium pode ser considerado
muito baixo ou desprezível, uma vez que mais de 100.000 hectares desta espécie
já foram plantadas no Brasil, onde ainda não se registrou nenhum insucesso
decorrente, especificamente, de pragas ou doenças.
Central Florestal – Pesquisador Dr. Flávio, em meio ao cenário de crise na economia
brasileira, e a todos os benefícios da acácia frente à outras espécies
florestais comerciais, como o senhor ver a situação da silvicultura brasileira
para os próximos anos e a participação da acácia nesta conjuntura? Podemos
falar em substituir por exemplo cultivos de eucalipto, por cultivos de acácia,
para algumas finalidades?
Dr. Flávio Pereira – A crise econômica e politica que estamos vivenciando, é por
vezes desastrosa e vergonhosa para todos nós brasileiros. Entretanto ela é
passageira e para surpresa de todos os florestais o setor como um todo tem
apresentado pequeno avanço nos últimos meses, mesmo em meio ao furacão político
e econômico que vivemos. Os plantios florestais, independente da espécie,
constitui um patrimônio de relativa estabilidade, boa liquidez, além de
permitir o produtor armazenar o produto (madeira) no campo, a um custo muito
baixo, podendo, ainda, acumular ganhos em volume de madeira, possibilitando ao
silvicultor atravessar crises econômicas, sem a obrigatoriedade de proceder a
colheita e comercialização da madeira em épocas de preços de mercado
desfavoráveis. Independente de crises econômicas, a silvicultura brasileira
será sempre crescente e potencial, porque a população cresce, aumenta a demanda
por madeiras para construções, móveis, papel, energia, etc. Neste cenário, a Acacia mangium vem aumentando sua participação como
fornecedora de madeira para vários usos e excelente oportunidade para
exploração adicional da apicultura, forragem, tanino e recuperação de solos
degradados, criando para os pequenos silvicultores, excelente oportunidade para
preservação do seu capital e proporcionando agregação de vários outros valores
à produção florestal. Em determinados casos específicos, como por exemplo,
no cultivo de espécie florestal para exploração da apicultura ou para a
produção de tanino, a Acacia
mangium poderia ser empregada
em substituição a outras espécies. No entanto vejo a acácia como uma espécie
potencial que vem somar as demais espécies de rápido crescimento para produção
de madeira e produtos derivados.
Central Florestal – Pesquisador Dr. Flávio, qual região brasileira apresenta maior
área plantada de acácia?
Dr. Flávio Pereira – atualmente existe Acacia
mangium plantada, em maior ou
menor área, em todos os Estados brasileiros, inclusive no Sul do Brasil, embora
em caráter experimental. Nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e
Paraná predomina a espécie Acacia
decurrens, popularmente conhecida por acácia negra que é uma espécie “
lenheira” e muito cultivada para produção de tanino e cavacos, especificamente,
porém é uma espécie bem adaptada a climas frios. Especificamente falando da Acacia mangium, a maior área
plantada está situada em Roraima, onde existe um plantio contínuo de 27.500
hectares, seguindo-se a região Centro Oeste e o Nordeste, onde o plantio em
pequenas propriedades da região litorânea tem crescido significativamente nos
últimos três anos e com potencial para crescer mais ainda, em decorrência da
migração de muitas indústrias consumidoras de produtos de base florestal para
aquela região e por falta de madeira originária de plantios florestais.
Infelizmente ainda não encontrei estatísticas sobre a área plantada de Acacia mangium, no Brasil
Central
Florestal – Pesquisador Dr. Flávio, que relação o senhor vê entre o cultivo
de acácia e as discussões atuais sobre a agenda do desenvolvimento sustentável
do mundo?
Dr. Flávio Pereira – A agenda de desenvolvimento sustentável do mundo é muito
abrangente e um pouco sonhadora, mas tem conseguido avanços por alguns lados e
retrocesso, por outros. Contempla 17 objetivos de desenvolvimento sustentável e
169 metas, entre elas a melhoria do nível socioeconômico das comunidades pobres
no mundo.
O reflorestamento de grandes áreas de Acacia mangium, quer seja
fragmentada em pequenas propriedades rurais quer seja por meio de grandes áreas
de grandes empresas, com sua exploração sustentável por meio da produção de
vários produtos e subprodutos seguramente contribuirá de maneira significativa
para obtenção de avanços na agenda de desenvolvimento sustentável do mundo. Um
exemplo disto é um programa de reflorestamento de 66.000 hectares de Acacia mangium implantado em uma região composta por
várias comunidades carentes do Vietnam, cujo objetivo foi melhorar o nível
sócio econômico daquelas comunidades, por meio da geração de emprego e renda
para a população, nas várias fases de implantação do projeto, manejo,
exploração e transformação da madeira produzida, bem como por intermédio da
exploração da apicultura naquelas áreas reflorestadas, caracterizando, assim,
uma relação positiva entre o cultivo da Acacia e os objetivos propostos na
agenda de desenvolvimento sustentável. A semelhança do exemplo acima descrito
existe dezenas de outros grandes projetos de cultivo da Acacia mangium no Sudoeste da Àsia que confirmam esta
relação benéfica e direta melhorando a qualidade vida das populações. No ano de
2000 estivemos em visita a diferentes empresas reflorestadoras de Acacia mangium na Indonesia, Malasia, Tailandia,
Filipinas e India, onde existem mais de 2, 5 milhões de hectares de Acacia mangium sendo cultivadas para produção de
vários produtos, onde a produção de madeira para celulose e móveis
apresentava-se em destaque.
Central Florestal – Pesquisador Dr. Flávio, do pequeno ao grande produtor, todos
conseguem cultivar acacia?
Dr. Flávio Pereira – Perfeitamente. A Acacia mangium é uma espécie com grande potencial
para ser cultivada por qualquer empresa rural, independente do seu tamanho.
Entretanto, especificamente para os pequenos silvicultores, ela apresenta
determinados atrativos muito interessantes, por ser uma espécie multi-uso,
produzir múltiplos produtos, fácil estabelecimento no campo, fácil manejo;
apresenta baixa exigência em fertilidade de solo; recupera solos degradados;
pode ser cultivada em consórcio com culturas agrícolas anuais, permite a
agregação de valores pela exploração do tanino, da forragem para os animais e a
exploração da apicultura, proporcionando a estes produtores maior rentabilidade
e melhor distribuição do fluxo de caixa no decorrer do ano. Este variado número
de possibilidades de uso e produtos oferecidos pela espécie possibilita a
geração de postos de trabalho para todos os membros da família do agricultor
familiar, durante todos os meses do ano na pequena propriedade, contribuindo
para a redução do êxodo rural e consequentemente, as malesas reinantes nos
grandes aglomerados urbanos.
Central Florestal – Pesquisador Dr. Flávio, em vista a tantos benefícios e atrações
da espécie de acácia, porque ela ainda não ganhou um espaço tão significativo
no cenário de florestas plantadas no Brasil?
Dr. Flávio Pereira – Ela vem ganhando notoriedade
na medida em que vem se tornando conhecida, principalmente pelos pequenos
silvicultores que tem baixo acesso as novas tecnologias e aos centros de
tecnologias, se comparado com as grandes empresas. Em segundo lugar, porque ainda
é uma espécie muito nova no Brasil, se comparada com o Eucalyptus sp. e o Pinus sp, com cerca de 100 anos de
cultivo no Brasil. A baixa disponibilidade de material genético melhorado
acessível ao pequeno produtor também tem contribuído de forma decisiva para o
pequeno crescimento das áreas cultivadas. E por fim, devido ao fato das grandes
indústrias de celulose e siderurgia existentes no Brasil terem sido
dimensionadas e construídas, em sua maioria, antes da introdução da Acacia mangium e da divulgação dos resultados de
pesquisas e tecnologias de cultivo. O processo de geração de tecnologias sobre
uma nova espécie florestal requer tempo prolongado, como ocorreu com o
eucalipto, que até os dias atuais ainda passa pelos crivos das crenças e
críticas populares infundadas.
Central Florestal – Dr. Flávio, há
espaço para novos negócios florestais no Brasil neste momento de crise? Seria a
acácia uma alternativa exclusiva para os próximos anos?
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Plantio de Acácia Mangium – Crédito Flávio Pereira |
Central Florestal – Dr. Flávio, o Central Florestal procura sempre
cativar e conceder opiniões e palavras de ânimo à estudantes de Engenharia
Florestal, áreas afins, aos novos profissionais e produtores interessados em investir
em floresta, mas que têm receios, sobretudo frente ao momento de crise atual.
Gostaria que o senhor deixasse uma mensagem a este público, sobretudo em como
encarar o Brasil nesse momento no que diz respeito à negócios florestais. Os
novos profissionais podem recomendar sem medo plantios de Acácia? E os
investidores, podem apostar e investir em plantios comerciais da espécie?
Dr. Flávio Pereira – O Brasil tem um potencial gigante para o setor florestal e o pais
é muito maior do que esta crise político-econômica que estamos vivenciando,
resultado do trabalho da mente fértil dos maus políticos que os brasileiros
colocaram no poder. O país permanece e os maus administradores passam da mesma
forma que passará esta crise. Devemos aproveitar o momento ruim para tirarmos
lições e aprendizados para o futuro, sobretudo para o setor florestal e
procurarmos assimilar modelos econômicos semelhantes de países frios como o
Canadá e a Finlândia, onde o setor florestal, apesar das condições
desfavoráveis do clima, contribui de forma expressiva para o produto interno
bruto de seus países. A semelhança das principais espécies florestais de
rápido crescimento cultivadas no Brasil, os novos profissionais podem e devem
recomendar a os plantios de Acacia
mangium, desde que observem atentamente os pré-requisitos técnicos adotados
igualmente para outras espécies de rápido crescimento e aqueles específicos
para a citada espécie, dando ênfase especial às condições de clima, solo, uso
final dos produtos, emprego de material genético melhorado e adoção de práticas
de manejo adequadas.
Ótima entrevista Central Florestal!!
ResponderExcluirParabéns Dr. Flávio pela transparência, trabalho sério e imparcial no setor e no desenvolvimento de espécies alternativas não tradicionais! É de profissionais como você que precisamos na silvicultura do nosso país!
Saudações florestais!
Poderiam postar algo sobre a dormência da semente. ..
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