MA, PI e TO Bombando: Juntos vão receber ao menos US$ 7,8 bilhões em projetos previstos para os próximos anos

   Ao mesmo tempo em que o Brasil se consolida como polo mundial de produção de celulose de eucalipto, internamente, novas fronteiras estão sendo abertas pela indústria. Maranhão, Piauí e Tocantins, que formam o chamado "Mapito", atraíram a atenção dos produtores - tradicionais ou novos investidores - com terras disponíveis, recursos hídricos, logística de escoamento da matéria-prima até a costa, incentivos fiscais e processos de licenciamento menos burocráticos que os de outras regiões do país. Como resultado, vão receber ao menos US$ 7,8 bilhões em projetos previstos para os próximos anos.
   A "novidade geográfica" da indústria, Mato Grosso do Sul, assistiu a uma revolução na região de Três Lagoas nos últimos seis anos, com a instalação da Fibria, maior produtora mundial da matéria-prima, e da International Paper (IP), que herdou florestas que pertenciam à antiga Champion. Neste mês, a Eldorado Brasil lançou oficialmente sua operação no município, consolidando-o como polo nacional de plantações de eucalipto.
   Antes disso, o sul da Bahia atraiu empresas como Suzano Papel e Celulose e Veracel, joint venture entre a Fibria e a sueco-finlandesa Stora Enso. A elevação dos preços da terra e processos mais complicados para obtenção de licenças ambientais, contudo, desviaram o foco da indústria para outras regiões. Situações semelhantes ocorreram no Sul e no Sudeste, que ainda hoje concentram a maior parte das fábricas de celulose e papel em operação no país.
   Para o vice-presidente da Pöyry Tecnologia, Carlos Alberto Farinha e Silva, em comum, os Estados do "Mapito" têm a oferecer terras e novos modais de transporte, e se mostraram receptivos a novos investidores. "Essa região se configura como uma nova fronteira, que tem na Ferrovia Norte-Sul um importante estímulo", afirma.
   Boas condições para escoamento da celulose, bem como distâncias relativamente pequenas entre plantação e fábrica, são decisivas para a instalação de linhas produtivas (veja reportagem abaixo), ainda que as empresas tenham de efetuar desembolsos para ajustar a infraestrutura local a suas necessidades.
   A distância em relação aos produtores de bens de capital, de acordo com o diretor industrial da Fibria, Francisco Valério, é menos relevante do ponto de vista logístico. No caso de Três Lagoas, os equipamentos importados chegaram aos portos de Santos e de Paranaguá e seguiram para o Centro-Oeste por meio de rodovia, sem grandes complicações.
  "A indústria depende de dois itens: matéria-prima [madeira] e água", ressalta Valério, acrescentando que a existência de um maciço florestal da antiga Champion viabilizou a mais moderna unidade da Fibria. O executivo, que participou da implantação das fábricas da antiga Aracruz - que se uniu à Votorantim Celulose e Papel (VCP) na Fibria - no Espírito Santo, lembra que as condições à época eram ainda mais precárias do que as encontradas em Mato Grosso do Sul. "Cada região tem a sua peculiaridade", destaca.


    A chegada da Eldorado ao mesmo município, conta Valério, levou a Fibria a se preparar, uma vez que estava claro que haveria maior concorrência por determinados recursos, entre os quais profissionais qualificados. "Formamos um novo grupo no Senai e, quando necessário, deslocamos mão de obra de outras unidades." Do ponto de vista da Eldorado, foi justamente a presença da cultura de eucalipto em Três Lagoas que levou a fábrica para a região.
"Já havia a experiência de passar por um grande projeto. O que a Eldorado fez foi consolidar o polo", afirma o presidente da companhia, José Carlos Grubisich. Conforme o executivo, Estado e município foram bastante receptivos ao projeto e, sim, houve desafios, especialmente de mão de obra, diante da existência de alguns projetos concorrentes - fora do setor, a Petrobras pretende instalar uma fábrica de fertilizantes na cidade.
     Assim como acontece com os atrativos, os desafios das novas fronteiras são, de maneira geral, comuns. Escassez de mão de obra especializada, falta de entendimento por parte da população local do que é um empreendimento desse porte e a adaptação de clones de eucalipto ao solo aparecem como pontos de atenção da indústria. Para instalar uma fábrica no Tocantins até 2018, por exemplo, a Braxcel desenvolveu 18 campos experimentais e testou 100 diferentes clones, utilizando diversos tipos de manejo florestal. Ao fim, foram selecionadas 15 matrizes.
   A caminho de iniciar a operação de uma nova fábrica no Maranhão e com planos já declarados para o Piauí, a Suzano valeu-se do conhecimento da área para levar adiante o investimento. "No Maranhão, desenvolvemos pesquisas desde a década de 80", afirma o diretor de Operações da companhia, Ernesto Pousada. "Esse é um desafio que pode se tornar uma vantagem competitiva", diz. Naquele Estado, a Suzano comprou da Vale quase 85 mil hectares de plantações. Já no Piauí, a empresa teria encontrado dificuldades com o solo seco, informação que não é confirmada pelo executivo. "Há um processo de aprendizagem, mas nada que seja relevante", garante. Para Pousada, Centro-Oeste e o norte do Nordeste correspondem, de fato, à nova fronteira para a indústria pelos próximos dez ou 15 anos.
    Fora do país, afirma Farinha, da Pöyry, a China ensaia a constituição de uma indústria local de celulose e a África oferece condições de clima e solo "interessantes" à cultura do eucalipto. A consagração desses países como polos produtivos, contudo, é assunto de longo prazo. "Há grandes dificuldades nessas regiões e ainda não está claro como serão enfrentadas", afirma. Ainda assim, há tentativas por parte da indústria. A Portucel, por exemplo, pretende se estabelecer no norte de Moçambique, mas não espera iniciar a produção antes de 2022.

*Com informações de Painel Florestal

 

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